Porém, uma coisa essa pequena explosão conseguiu deixar clara: jornais, governos/bancos centrais e seus economistas acadêmicos favoritos, todos eles odeiam o padrão-ouro. E eu entendo por quê. A ausência do padrão-ouro tornou possível o mundo do dinheiro de papel que todos eles adoram, um mundo controlado pelo Estado/Bancos, um mundo de enorme endividamento e de infindáveis oportunidades de danos a serem perpetrados desde o topo da cadeia de comando.
Mas adivinhe só? O ouro na verdade nunca saiu de cena. Ele continua sendo a proteção que todos escolhem, o objeto a que todo investidor recorre em tempos problemáticos. Ele continua sendo o mais líquido, o mais estável, o mais fungível, o mais comercializável e o mais confiável meio de armazenar riqueza de todo o planeta. Ele apresenta a mais confiável diferença entre o preço da oferta e o preço da demanda em relação a qualquer outra commodity existente no mundo, dado o seu valor por unidade de massa.
O que aconteceu imediatamente em seguida? A casa desabou. O famoso keynesiano Brad DeLong, da Universidade de Berkeley, chamou Zoellick de "o homem mais estúpido que existe" e o The New York Times apressou-se em divulgar uma legião de "especialistas" garantindo que o padrão-ouro não apenas não iria consertar as coisas, como também iria tolher as políticas monetárias, trazer muito mais instabilidade, trazer de volta a grande depressão e gerar todos os tipos de sofrimentos em escala mundial.
Uma das mais engraçadas explosões veio de Nouriel Roubini, que listou uma série de méritos do ouro sem reconhecê-los como tal: o ouro limita a flexibilidade e o escopo das ações dos bancos centrais (empecilho!); sob um padrão-ouro, um banco central não pode "estimular o crescimento e gerenciar a estabilidade de preços" (empecilho!); sob um padrão-ouro, bancos centrais não podem servir de emprestadores de última instância (empecilho!); sob um padrão-ouro, bancos podem ir à falência sem serem socorridos (empecilho!).
Como Murray Rothbard sempre enfatizou, a essência do padrão-ouro é que ele retira o poder dos burocratas e o coloca nas mãos das pessoas. Elas não mais continuam dependentes dos caprichos dos bancos centrais, dos ministros da fazenda e dos apostadores dos grandes centros financeiros. O dinheiro deixa de ser um mero instrumento contábil e passa a ser uma forma real de propriedade, como qualquer outra. Ele é sólido, portátil, universalmente valioso e, ao invés de se depreciar constantemente, seu valor se mantém ou até mesmo sobe com o passar do tempo. Sob um padrão-ouro genuíno, não há necessidade de um banco central, e os próprios bancos passariam a funcionar como qualquer outra empresa: iriam à falência quando fizessem bobagens e se revelassem incompetentes, ao invés de serem socorridos pelo governo, deixando assim de executar gigantescas operações arbitrárias sustentadas por dinheiro público.
Imagine como seria manter seu dinheiro guardado e ver seu valor crescer, ao invés de diminuir, em termos de poder de compra de bens e serviços. Assim é a vida sob um padrão-ouro genuíno. Os poupadores são recompensados ao invés de punidos, como ocorre hoje. Ninguém utilizaria o sistema monetário para roubar terceiros. O governo só pode gastar aquilo que ele coleta, e nada mais. O comércio internacional não passa por reviravoltas constantes em decorrência de alterações cambiais.
Seria eletrizante o dia em que as autoridades monetárias de fato tornassem o dinheiro de papel diretamente conversível em ouro (ou em prata ou em qualquer outra coisa), liberando o mercado para que as pessoas possam criar seu próprio padrão-ouro, permitindo uma genuína inovação e uma verdadeira possibilidade de se escolher o dinheiro a ser utilizado.
É fácil imaginar que os oponentes do padrão-ouro iriam se opor a isso também, pois, como o próprio Alan Greenspan já admitiu em seus “dias racionais”, as pessoas que se opõem ao ouro se opõem, em última instância, à liberdade humana.
O padrão-ouro faz com que a determinação do poder aquisitivo da moeda seja independente das ambições, pressões e doutrinas dos partidos políticos e grupos financeiros. Isto não é um defeito do padrão-ouro; é a sua principal virtude (Mises 1966, 474).
Esse debate não é sobre política monetária, na verdade. E muito menos sobre aspectos técnicos da transição. Trata-se de um debate sobre filosofia política: em que tipo de sociedade queremos viver? Em uma controlada por um Estado/Banco Central sempre crescente e que a tudo controla, ou em uma na qual as pessoas têm suas liberdades garantidas e protegidas??
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