sábado, 22 de setembro de 2012

Por quê voltar ao padrão-ouro?



Bem vindo à era do papel moeda (moeda fiduciária), em que os governos/bancos centrais podem criar dinheiro como quiserem, sem limites.  O ouro sempre foi a limitação suprema.  Seu banimento como padrão desencadeou o monstro inflacionário e o próprio leviatã, que inchou para muito além de qualquer razoabilidade.
Porém, uma coisa essa pequena explosão conseguiu deixar clara: jornais, governos/bancos centrais e seus economistas acadêmicos favoritos, todos eles odeiam o padrão-ouro.  E eu entendo por quê.  A ausência do padrão-ouro tornou possível o mundo do dinheiro de papel que todos eles adoram, um mundo controlado pelo Estado/Bancos, um mundo de enorme endividamento e de infindáveis oportunidades de danos a serem perpetrados desde o topo da cadeia de comando.

Mas adivinhe só?  O ouro na verdade nunca saiu de cena.  Ele continua sendo a proteção que todos escolhem, o objeto a que todo investidor recorre em tempos problemáticos.  Ele continua sendo o mais líquido, o mais estável, o mais fungível, o mais comercializável e o mais confiável meio de armazenar riqueza de todo o planeta.  Ele apresenta a mais confiável diferença entre o preço da oferta e o preço da demanda em relação a qualquer outra commodity existente no mundo, dado o seu valor por unidade de massa.
Porém, estaria o ouro tecnicamente morto como uma ferramenta monetária?  Talvez não.  Sempre que os fracassos do dinheiro de papel (moeda fiduciária) tornam-se mais do que óbvios, alguém menciona o ouro e toda a histeria se irrompe.  Foi exatamente isso que aconteceu, quando Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, fez alguns comentários ruidosos favoráveis ao ouro.  Ele simplesmente sugeriu que seu preço deveria ser utilizado como um critério indicativo da qualidade de uma política monetária.
O que aconteceu imediatamente em seguida?  A casa desabou.  O famoso keynesiano Brad DeLong, da Universidade de Berkeley, chamou Zoellick de "o homem mais estúpido que existe" e o The New York Times apressou-se em divulgar uma legião de "especialistas" garantindo que o padrão-ouro não apenas não iria consertar as coisas, como também iria tolher as políticas monetárias, trazer muito mais instabilidade, trazer de volta a grande depressão e gerar todos os tipos de sofrimentos em escala mundial.

Uma das mais engraçadas explosões veio de Nouriel Roubini, que listou uma série de méritos do ouro sem reconhecê-los como tal: o ouro limita a flexibilidade e o escopo das ações dos bancos centrais (empecilho!); sob um padrão-ouro, um banco central não pode "estimular o crescimento e gerenciar a estabilidade de preços" (empecilho!); sob um padrão-ouro, bancos centrais não podem servir de emprestadores de última instância (empecilho!); sob um padrão-ouro, bancos podem ir à falência sem serem socorridos (empecilho!).

Como Murray Rothbard sempre enfatizou, a essência do padrão-ouro é que ele retira o poder dos burocratas e o coloca nas mãos das pessoas.  Elas não mais continuam dependentes dos caprichos dos bancos centrais, dos ministros da fazenda e dos apostadores dos grandes centros financeiros.  O dinheiro deixa de ser um mero instrumento contábil e passa a ser uma forma real de propriedade, como qualquer outra.  Ele é sólido, portátil, universalmente valioso e, ao invés de se depreciar constantemente, seu valor se mantém ou até mesmo sobe com o passar do tempo.  Sob um padrão-ouro genuíno, não há necessidade de um banco central, e os próprios bancos passariam a funcionar como qualquer outra empresa: iriam à falência quando fizessem bobagens e se revelassem incompetentes, ao invés de serem socorridos pelo governo, deixando assim de executar gigantescas operações arbitrárias sustentadas por dinheiro público.

Imagine como seria manter seu dinheiro guardado e ver seu valor crescer, ao invés de diminuir, em termos de poder de compra de bens e serviços.  Assim é a vida sob um padrão-ouro genuíno.  Os poupadores são recompensados ao invés de punidos, como ocorre hoje.  Ninguém utilizaria o sistema monetário para roubar terceiros.  O governo só pode gastar aquilo que ele coleta, e nada mais.  O comércio internacional não passa por reviravoltas constantes em decorrência de alterações cambiais.

Seria eletrizante o dia em que as autoridades monetárias de fato tornassem o dinheiro de papel diretamente conversível em ouro (ou em prata ou em qualquer outra coisa), liberando o mercado para que as pessoas possam criar seu próprio padrão-ouro, permitindo uma genuína inovação e uma verdadeira possibilidade de se escolher o dinheiro a ser utilizado. 
É fácil imaginar que os oponentes do padrão-ouro iriam se opor a isso também, pois, como o próprio Alan Greenspan já admitiu em seus “dias racionais”, as pessoas que se opõem ao ouro se opõem, em última instância, à liberdade humana.

O padrão-ouro faz com que a determinação do poder aquisitivo da moeda seja independente das ambições, pressões e doutrinas dos partidos políticos e grupos financeiros. Isto não é um defeito do padrão-ouro; é a sua principal virtude (Mises 1966, 474).

Esse debate não é sobre política monetária, na verdade.  E muito menos sobre aspectos técnicos da transição.  Trata-se de um debate sobre filosofia política: em que tipo de sociedade queremos viver?  Em uma controlada por um Estado/Banco Central sempre crescente e que a tudo controla, ou em uma na qual as pessoas têm suas liberdades garantidas e protegidas??

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