sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Nova ordem econômica: o lastro do ouro é relançado

Para Bird, mundo precisa de um novo sistema para suceder o regime de trocas flutuantes em vigor desde o final, em 1971, da convertibilidade do dólar em ouro

 O ouro, que perdeu seu papel de padrão nas trocas intenacionais há 40 anos, começa a desempenhar um novo papel na nova ordem mundial que será debatida por chefes de Estado de grandes países emergentes e desenvolvidos do G20, afirmou o presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick.

Em artigo publicado antes da cúpula do G20 em Seul (Coreia do Sul), Zoellick afirma que o mundo precisa de um novo sistema para suceder ao que ele chama de "Bretton Woods II", o regime de trocas flutuantes em vigor desde o final, em 1971, da convertibilidade do dólar em ouro.

Segundo o presidente do Bird, este novo quadro "deveria incluir o dólar, o euro, o iene, a libra esterlina e o yuan".

Mas "o sistema deveria também considerar empregar o ouro como um ponto de referência internacional ligado às previsões do mercado e de valor futuro das moedas", lançou o jornal britânico Financial Times nesta segunda-feira.

"A ideia é utilizar o ouro como um novo indicador de inflação", descreveu Cédric Tille, professor de economia no Instituto de Altos Estudos Internacionais e do Desenvolvimento de Genebra.

A onça do ouro subiu nos últimos dias a níveis nunca antes atingidos, ultrapassando pela primeira vez nesta segunda-feira o patamar de 1.400 dólares, sustentado pelo enfraquecimento do dólar suscitado pelo anúncio de medidas de retomada econômica do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

A ideia de "reintroduzir o ouro no sistema" não é, em si, mau, considera Jean Pisani-Ferry, diretor do Bruegel.

"No sistema monetário atual, os bancos centrais vigiam as taxas de inflação, ancorada nos preços dos bens, mas não vigiam os preços globais de matérias-primas", explica. Numa reforma do sistema, tal como o preconizado por Zoellick, "poderiam também reagir em função das variações dos preços do ouro", acrescenta o economista.

De passagem, Pisani-Ferry destaca que as propostas do presidente do Bird são, antes de mais nada, "políticas": no dia seguinte da derrota dos democratas nas eleições de metade do mandato nos Estados Unidos, "ele se dirige aos republicanos, que são tradicionalmente muito interessados no ouro".

Mas os economistas não imaginam uma volta completa ao padrão ouro. "Não é a oferta do ouro que pode regular o crescimento atual", segundo o diretor do Bruegel. "Vimos os limites deste tipo de sistema", complementa René Defossez, analista da casa Natixis.

O sistema monetário lastreado no ouro ruiu no começo da Primeira Guerra Mundial, com os países não dispondo mais de reservas suficientes do metal precioso para trocar contra o excesso de divisas impressas pelos governos.

O padrão ouro regrediu então até que os Estados Unidos puseram fim, em 1971, à convertibilidade em ouro do dólar.

"Um tal sistema tem a desvantagem de ser submetido à extração do metal", destaca Gunther Cappelle-Blancard, professor da Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne. "E o ouro está relativamente mal distribuído no planeta, o que daria um peso muito importante aos países que o produzem", acrescentou.

Para este economista, retornar ao padrão ouro seria, além disso, "uma reforma estrutural difícil de executar".

"O sistema atual não é de todo mau, embora nem todos joguem o mesmo jogo", considera ele, defendendo, antes de tudo, um "reforço da cooperação com a China para que o país reajuste sua taxa de câmbio".

(fonte AFP)

O padrão-ouro e os ciclos de expansão e depressão


Comecemos com uma economia de escambo. João o minerador produz dez onças de ouro. A razão pela qual ele escava minas à procura de ouro é porque ele crê que haja um mercado para o produto. O ouro contribui para o bem-estar dos indivíduos. Ele troca suas dez onças de ouro por vários outros bens como batatas e tomates.
Observe que o fato de João poder trocar seu ouro por outros bens significa que o ouro oferece benefícios aos compradores. (Por exemplo, as pessoas utilizam ouro para fazer jóias).
 Com o tempo, as pessoas descobrem que o ouro, além de ser utilizado para fazer jóias, também é útil para algumas outras aplicações. Elas agora atribuem um valor de troca ao ouro muito maior do que antes. Como resultado, João o minerador pode agora trocar suas dez onças de ouro por mais batatas e tomates.

Deveríamos condenar isso como sendo uma notícia ruim pelo simples fato de João agora estar atraindo mais recursos para si próprio? É claro que não, até porque isso é exatamente o que acontece a todo o momento no mercado. Com o passar do tempo, as pessoas atribuem uma importância maior a alguns bens e diminuem a importância dada a alguns outros bens. Alguns bens passam a ser considerados mais importantes do que outros bens em termos da assistência e do bem-estar que propiciam.

E mais adiante, suponha que as pessoas descobrem - como inevitavelmente irão - que o ouro é útil para um outro uso específico: servir como meio de troca. Isto, consequentemente, vai valorizar o ouro (aumentar o seu preço) em termos de tomates e batatas. A demanda mais notória do ouro, nesse momento, é por sua função como meio de troca. A demanda por suas outras funções - isto é, para ornamentações - é agora muito menor do que antes.
O benefício que o ouro agora confere às pessoas é o de fornecer os serviços de meio de troca.
Nesse sentido, o ouro passa a fazer parte do conjunto da riqueza real das pessoas, além de manter suas outras funções de propiciar um bem-estar e assistir a vida das pessoas. Quando João o minerador troca ouro por bens, ele está empreendendo uma troca de alguma coisa por outra coisa (ao contrário de quando se imprime dinheiro sem lastro, que equivale a trocar alguma coisa por nada).

No caso do ouro, o minerador está trocando riqueza por riqueza.
Vejamos o que acontece se João aumentar a produção de ouro. Um dos atributos de se selecionar o ouro como meio de troca é que ele é relativamente escasso. Isso significa que, ao trocar um bem por ouro, o produtor desse bem espera que o seu poder de compra seja preservado com o tempo, por meio da retenção desse ouro.

Se, por alguma razão, houver um aumento grande e persistente na produção de ouro, o valor de troca do ouro estará sujeito a um persistente declínio em relação a outros bens, tudo o mais constante. À medida que a oferta de ouro começar a aumentar, sua função de meio de troca tenderá a diminuir, ao passo que sua demanda para outros usos tenderá a se manter ou a aumentar.

Portanto, nesse sentido, o aumento na produção de ouro irá aumentar o conjunto da riqueza real. (As pessoas podem até abandonar o ouro como meio de troca, mas ainda o considerarão útil para outras aplicações). Observe que o aumento na oferta de ouro não é um ato de fraude ou de apropriação indevida. O aumento na oferta de ouro não produz uma troca de nada por alguma coisa.

Compare tudo isso à impressão de recibos (cédulas) de ouro que não estejam lastreados 100% por ouro - ou seja, dinheiro criado do nada (exatamente como o banco central e o sistema bancário de reservas fracionárias fazem). Trata-se de um ato de fraude, que na verdade é o que a inflação é. Ela cria um cenário em que o consumo é feito sem qualquer contribuição ao conjunto da riqueza real. Certificados vazios, sem qualquer lastro, geram uma troca de nada por alguma coisa, que por sua vez leva aos ciclos de expansão e recessão.
Relembrando: no caso do aumento na oferta de ouro, nenhuma fraude é cometida.

O fornecedor de ouro - a mina de ouro - aumentou a produção de uma commodity útil. Logo, nesse sentido, não temos aqui uma troca de nada por alguma coisa. Consequentemente, também não teremos a aparição de bolhas. O produtor de riquezas, por ele ter produzido alguma coisa útil, poderá trocar isso por outros bens. Ele não precisará de dinheiro artificial para desviar riqueza real para ele. Tivesse ele simplesmente criado cédulas de papel - ou dinheiro eletrônico, no caso do sistema bancário - ele seria capaz de adquirir bens (riqueza real) sem ter de dar nada em troca.

Sob um padrão-ouro, um aumento na taxa de crescimento do dinheiro, que é o ouro, não gerará a aparição de bolhas - isto é, não haverá um boom econômico artificial. Uma queda na taxa de crescimento do dinheiro não desencadeará um declínio econômico - já que não houve a criação de bolhas que seriam destruídas por uma taxa menor de crescimento da oferta monetária.
Observe que é o desaparecimento de dinheiro - como ocorre quando o dinheiro é criado do nada - a maior causa de um declínio econômico. A injeção de dinheiro artificial gera a criação de bolhas, ao passo que o desaparecimento desse dinheiro destrói essas bolhas.

Sob um padrão-ouro genuíno, onde o ouro é a moeda e não há (ou há em termos mínimos) reservas fracionárias, isso não tem como ocorrer. Em um padrão ouro puro, sem um banco central, o dinheiro é o ouro. Consequentemente, sob um padrão-ouro, é improvável que o dinheiro desapareça, uma vez que o ouro não pode desaparecer a menos que seja fisicamente destruído.
Podemos assim concluir que o padrão-ouro, caso não sofra adulterações, não conduz a ciclos de expansão e recessão.

A solução mais simples: Ouro


Como J.P. Morgan memoravelmente disse ao Congresso americano em 1913, "apenas ouro é dinheiro, nada mais".  Morgan quis dizer que o ouro era incomparável e insuperável em sua eficácia como reserva de valor e meio de troca.

Dado que seu banco homônimo, em fevereiro passado, começou a aceitar barras de ouro como garantia para empréstimos, por que a tendência de retorno em ampla escala para o ouro deveria ser considerada apenas uma possibilidade remota?  Ao contrário, ela deveria ser esperada — no mínimo, simplesmente porque todas as outras moedas de papel estão fundamentalmente em estado desanimador.

Mercados são arranjos poderosos, e requerem um meio de troca confiável, honesto e seguro.  A exigência de uma moeda sólida e forte não é apenas filosófica; ela advém do próprio mercado.  Ao longo da história humana, mercadores e comerciantes sempre recorriam ao ouro e à prata perante o surgimento de novas moedas pretendentes.  O arranjo em que vivemos hoje não é o primeiro experimento da história com um sistema de dinheiro de papel, tampouco estamos vivendo a primeira desvalorização do dinheiro em larga escala. 

Com efeito, as lições da história já haviam sido apreendidas pelos pais fundadores dos Estados Unidos, os quais escreveram claramente na Constituição americana: "Nenhum estado deverá... tornar qualquer coisa que não seja moedas de ouro e prata em meio de pagamento forçado para a quitação de dívidas."

Embora sempre tenha existido a possibilidade de outra moeda de papel crescer a ponto de assumir o lugar o do dólar como moeda internacional de reserva, e assim dar continuidade a esse experimento irracional de dinheiro em contínua desvalorização, as circunstâncias específicas que predominam atualmente tornam cada vez menos provável que isso ocorra. 

Ao contrário: de minha perspectiva, vejo sinais de que o mundo está voltando para o ouro a uma velocidade atordoante.
Isso seria meramente um retorno à normalidade e traria muitas implicações positivas para a economia global.  É certamente um rumo que todos nós devemos acolher favoravelmente, e lucrar com isso.

Bancos lucram com o nacionalismo monetário


No futuro, os historiadores econômicos certamente irão rir de nós por termos aceitado viver sob um estranho, ilógico e ineficiente arranjo de vários e distintos papeis-moeda locais — e por termos ingenuamente acreditado que isso representava o ápice do capitalismo moderno.  
Hoje, cada governo quer ter sua própria moeda de papel, seu próprio banco central e gerir sua própria política monetária (é claro, com uma moeda fiduciária perfeitamente elástica).  Isto naturalmente representa um grande impedimento para o comércio internacional e para o livre fluxo de capital.

Se recebo um pagamento de uma pessoa que mora em outro país e quero utilizar esse dinheiro em meu país, tenho de fazer o câmbio da moeda.  E só posso fazer isso se encontrar alguém disposto a aceitar me dar moeda nacional em troca desta moeda estrangeira.  Tudo isso graças ao monopólio estatal da moeda e, principalmente, às leis de curso forçado. A existência de várias moedas distintas necessariamente reintroduz um aspecto de escambo parcial no comércio.  
A melhor, mais eficiente e mais capitalista solução seria o uso do mesmo meio de troca em todo o globo.  O padrão-ouro era um sistema monetário muito superior também neste aspecto.  Sair do padrão-ouro internacional para adotar um sistema de várias moedas de papel gerenciadas pelo estado foi um enorme regresso econômico.

Cem anos atrás, você podia pegar um trem de Londres a Moscou e utilizar o mesmo dinheiro (moedas de ouro) em toda a sua viagem.  Não havia necessidade de trocar de dinheiro em nenhum momento.  (Aliás, diga-se de passagem, você nem precisava de passaporte).

A noção de que a 'economia nacional' necessita de uma 'moeda nacional' sempre foi uma ficção, embora bastante lucrativa para os bancos que detêm as concessões das casas de câmbio.  Igualmente fictícia é a ideia de que a economia funciona melhor se a oferta monetária, as taxas de juros e as taxas de câmbio forem cuidadosamente manipuladas por burocratas locais (ficção esta que é altamente rentável para vários economistas que vivem desse sistema).  
No mundo atual, cada vez mais globalizado, tais ficções são totalmente insustentáveis.  O capitalismo transcende fronteiras, e o que ele necessita para prosperar é simplesmente de uma moeda sólida, apolítica e internacional.  Um dinheiro que seja uma ferramenta adequada para a cooperação e para a interação humana voluntária, e não simplesmente uma ferramenta para manobras políticas.

Os bancos se beneficiam deste atual segregação monetária.  Eles lucram com as inúmeras operações cambiais que ocorrem diariamente.  Já as empresas não-financeiras que operam internacionalmente são inevitavelmente forçadas a especular nos mercados de câmbio ou a pagar por custosas estratégias de hedge para se proteger de variações cambiais (de novo, pagando para os bancos).