sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O padrão-ouro e os ciclos de expansão e depressão


Comecemos com uma economia de escambo. João o minerador produz dez onças de ouro. A razão pela qual ele escava minas à procura de ouro é porque ele crê que haja um mercado para o produto. O ouro contribui para o bem-estar dos indivíduos. Ele troca suas dez onças de ouro por vários outros bens como batatas e tomates.
Observe que o fato de João poder trocar seu ouro por outros bens significa que o ouro oferece benefícios aos compradores. (Por exemplo, as pessoas utilizam ouro para fazer jóias).
 Com o tempo, as pessoas descobrem que o ouro, além de ser utilizado para fazer jóias, também é útil para algumas outras aplicações. Elas agora atribuem um valor de troca ao ouro muito maior do que antes. Como resultado, João o minerador pode agora trocar suas dez onças de ouro por mais batatas e tomates.

Deveríamos condenar isso como sendo uma notícia ruim pelo simples fato de João agora estar atraindo mais recursos para si próprio? É claro que não, até porque isso é exatamente o que acontece a todo o momento no mercado. Com o passar do tempo, as pessoas atribuem uma importância maior a alguns bens e diminuem a importância dada a alguns outros bens. Alguns bens passam a ser considerados mais importantes do que outros bens em termos da assistência e do bem-estar que propiciam.

E mais adiante, suponha que as pessoas descobrem - como inevitavelmente irão - que o ouro é útil para um outro uso específico: servir como meio de troca. Isto, consequentemente, vai valorizar o ouro (aumentar o seu preço) em termos de tomates e batatas. A demanda mais notória do ouro, nesse momento, é por sua função como meio de troca. A demanda por suas outras funções - isto é, para ornamentações - é agora muito menor do que antes.
O benefício que o ouro agora confere às pessoas é o de fornecer os serviços de meio de troca.
Nesse sentido, o ouro passa a fazer parte do conjunto da riqueza real das pessoas, além de manter suas outras funções de propiciar um bem-estar e assistir a vida das pessoas. Quando João o minerador troca ouro por bens, ele está empreendendo uma troca de alguma coisa por outra coisa (ao contrário de quando se imprime dinheiro sem lastro, que equivale a trocar alguma coisa por nada).

No caso do ouro, o minerador está trocando riqueza por riqueza.
Vejamos o que acontece se João aumentar a produção de ouro. Um dos atributos de se selecionar o ouro como meio de troca é que ele é relativamente escasso. Isso significa que, ao trocar um bem por ouro, o produtor desse bem espera que o seu poder de compra seja preservado com o tempo, por meio da retenção desse ouro.

Se, por alguma razão, houver um aumento grande e persistente na produção de ouro, o valor de troca do ouro estará sujeito a um persistente declínio em relação a outros bens, tudo o mais constante. À medida que a oferta de ouro começar a aumentar, sua função de meio de troca tenderá a diminuir, ao passo que sua demanda para outros usos tenderá a se manter ou a aumentar.

Portanto, nesse sentido, o aumento na produção de ouro irá aumentar o conjunto da riqueza real. (As pessoas podem até abandonar o ouro como meio de troca, mas ainda o considerarão útil para outras aplicações). Observe que o aumento na oferta de ouro não é um ato de fraude ou de apropriação indevida. O aumento na oferta de ouro não produz uma troca de nada por alguma coisa.

Compare tudo isso à impressão de recibos (cédulas) de ouro que não estejam lastreados 100% por ouro - ou seja, dinheiro criado do nada (exatamente como o banco central e o sistema bancário de reservas fracionárias fazem). Trata-se de um ato de fraude, que na verdade é o que a inflação é. Ela cria um cenário em que o consumo é feito sem qualquer contribuição ao conjunto da riqueza real. Certificados vazios, sem qualquer lastro, geram uma troca de nada por alguma coisa, que por sua vez leva aos ciclos de expansão e recessão.
Relembrando: no caso do aumento na oferta de ouro, nenhuma fraude é cometida.

O fornecedor de ouro - a mina de ouro - aumentou a produção de uma commodity útil. Logo, nesse sentido, não temos aqui uma troca de nada por alguma coisa. Consequentemente, também não teremos a aparição de bolhas. O produtor de riquezas, por ele ter produzido alguma coisa útil, poderá trocar isso por outros bens. Ele não precisará de dinheiro artificial para desviar riqueza real para ele. Tivesse ele simplesmente criado cédulas de papel - ou dinheiro eletrônico, no caso do sistema bancário - ele seria capaz de adquirir bens (riqueza real) sem ter de dar nada em troca.

Sob um padrão-ouro, um aumento na taxa de crescimento do dinheiro, que é o ouro, não gerará a aparição de bolhas - isto é, não haverá um boom econômico artificial. Uma queda na taxa de crescimento do dinheiro não desencadeará um declínio econômico - já que não houve a criação de bolhas que seriam destruídas por uma taxa menor de crescimento da oferta monetária.
Observe que é o desaparecimento de dinheiro - como ocorre quando o dinheiro é criado do nada - a maior causa de um declínio econômico. A injeção de dinheiro artificial gera a criação de bolhas, ao passo que o desaparecimento desse dinheiro destrói essas bolhas.

Sob um padrão-ouro genuíno, onde o ouro é a moeda e não há (ou há em termos mínimos) reservas fracionárias, isso não tem como ocorrer. Em um padrão ouro puro, sem um banco central, o dinheiro é o ouro. Consequentemente, sob um padrão-ouro, é improvável que o dinheiro desapareça, uma vez que o ouro não pode desaparecer a menos que seja fisicamente destruído.
Podemos assim concluir que o padrão-ouro, caso não sofra adulterações, não conduz a ciclos de expansão e recessão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário